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"Entre Estranhos": minissérie da Apple é espetacular!

Cinestesia, Por Gabi Fischer, Cineasta e Produtora

Em 02/08/2023 às 07:24:00

Freud já disse: “Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro.” E nós sabemos muito bem, porque todo ser humano neurótico (aproveitando-se do termo freudiano) reconhece a dificuldade que é que perpassar por toda a experiência de uma vida. No entanto, as vivências durante a infância possuem um maior peso para nos formarem como indivíduo que conhecemos. Calma, você vai entender o que eu estou falando.

Para começar, é preciso dizer que a minha experiência de ir dar o play no primeiro episódio, assim que estreou, foi sem saber quase nada. Não fui atrás de muitas informações e degustei a cada semana, foi incrível. Assim, como espectadora, fui analisando e prestando atenção em toda a produção. Sim, só de passar o olho em uma logline da minissérie fiquei interessada e, então, meu olho passou para o elenco. Pronto, fui conquistada quando vi nomes como Tom Holland, Amanda Seyfried e Jason Isaacs. A produção me pegou e dei play. Já confirmo que não li a sinopse completa, então não sabia de uma informação importante.

De cara, estava apaixonada só pela abertura. A trilha sonora é instigante, a animação das pinturas é belíssima e tudo combinado para irmos adentrando no mistério que culmina na sombra na torre. Está tudo ali, todos os 10 episódios. Claro, o título em inglês é melhor, porque “The Crowded Room” (a sala lotada) coroa o suspense. E sempre ali no canto, o crédito de que a série é baseada em um livro. Mas eu escolhi deixar essa informação para depois e foi uma ótima opção. Por conta dessas escolhas, me senti como a personagem da Rya, que foi conhecendo as partes de Danny.

Aqui, deixo mais uma frase de Freud que faz todo o sentido para essa produção: “Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos.” Pode ficar com essa citação na cabeça e ir dar uma de Sherlock Holmes ao assistir Tom Holland. Até o terceiro episódio, me senti na experiência de um quebra-cabeça ao analisar sua atuação. Em cada movimento do ator e entonações de sua voz, fui suspeitando e chegando em uma ideia, que virou a conclusão e isso foi maravilhoso. Pensando nisso, caso você queira aproveitar assim também, indico que pare aqui e volte depois. Mas caso não se importe, vou já falar da sinopse abaixo.

Por parte, vou colocar primeiro a que eu li: Danny Sullivan (Tom Holland), um homem que é preso após seu envolvimento em um tiroteio na cidade de Nova York, em 1979. Interessante, né? No entanto, a sinopse completa é: Danny Sullivan (Tom Holland) se tornou a primeira pessoa a ser absolvida de um crime por causa de transtorno de personalidade múltipla (hoje conhecido como transtorno dissociativo de identidade). O mistério por trás do caso e do passado do garoto envolvido em um tiroteio em Nova York é desvendado através de entrevistas e interrogatórios conduzidos por Rya (Amanda Seyfried), uma psicóloga clínica dedicada à causa, mas que precisa conciliar a vida profissional com a de mãe solteira.

“Entre Estranhos” é baseado no livro biográfico “The Minds Of Billy Milligan”, de Daniel Keyes, publicado em 1981. A série de ficção é inspirada nesse caso, mas adapta muitas questões, em especial para criar esse arco dramático de Danny e também de Rya, mas também suas personalidades e o crime. Enquanto, no caso real, Billy foi julgado por estupro, aqui é um tiroteio. Mas nada interfere na experiência, pois a análise (e descoberta) da psicóloga é muito bem construída junto com os detalhes do design de produção, atuação de Tom e a narrativa não-linear.

Nos 10 episódios, vamos desvendando o caso, conhecendo a história de Danny, sua mente, seus protetores e chegamos ao julgamento. Para completar, os coadjuvantes também são muito interessantes, com todo o merecido holofote sob Rya (Amanda Seyfried), mas também a mãe de Danny e o seu advogado, que traz um oculto interessante que o aproxima dessa história. Ir percebendo os detalhes é realmente ter a licença poética da experiência cinematográfica e ser um pouco psicólogo, pelo menos durante os minutos do episódio. Os enquadramentos, o roteiro, a montagem (perceba as trocas de figurino) e a reconstituição de toda a narrativa vão sustentando o suspense por toda a série, não só sobre o personagem principal e os outros habitantes de sua mente, mas também sob o julgamento. Afinal, culpado ou inocente?

A mente humana possui diversas ferramentas de defesa mas também pode ser quebrada, nesse caso, estraçalhada. E quero confirmar que a construção desse conceito é feita de uma forma extremamente delicada ao adentrarmos no ambiente que é a cabeça de Danny. Sobre essa temática, com certeza conhecemos outras produções, como o filme “Fragmentado” que o personagem de James McAvoy (que merece todos os aplausos) possui 23 personalidades (detalhe super bem colocado através do pote das escovas de dentes posteriormente em “Vidro”). Mas, adivinhe só, a ficção também foi inspirada no caso de Billy Milligan.

Agora, o desafio ficou nas mãos de Tom Holland e o jovem ator merece todos os prêmios possíveis, inclusive e, principalmente, de férias, algo que já está fazendo. O oculto de seu personagem é extremamente dilacerante, mas também dói ao vermos a influência de sua mãe e a sociedade. O próprio Freud explica que, mais que o trauma em si experienciado pela criança, um peso maior pode até se sobrepor, e é o que a corrói, que é a forma que a fazem lidar com essa dor, seja desmentindo, desconstruindo, ocultando ou a colocando como errada. Nesse caso, Danny encontrou sua maneira de se proteger.

O suspense psicológico é mais uma super produção no catálogo da Apple TV+ que merece toda sua atenção. Há tempos, eu não assistia uma minissérie de tamanha qualidade, que me deixou pensativa e na expectativa a cada semana. Para completar, conseguiu terminar muito bem. Espero ainda ouvir muitas mais pessoas falando e indicando. E, para quem achar interessante, depois de assistir, pode não só procurar o livro, mas também a série documental “As 24 Personalidade de Billy Milligan”, da Netflix.




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